segunda-feira, 22 de março de 2010

Há Um Crocodilo..., o encanto das bonecas coloridas e cheias de desencanto


Dóceis na embalagem, amargas no conteúdo, duas bonecas encantadoramente coloridas (uma de verde, outra de rosa) anunciam o desencanto em Há um Crocodilo Dentro de Mim, peça criada a seis mãos, pela diretora Silvana Garcia e pelas atrizes Amanda Lyra e Maria Tuca Fanchin.

As personagens revelam mais que um crocodilo. Povoam o diálogo metáforas com lobo, macaco, cavalo, presentes também em formas de objeto. Desta conversa espere um zoológico, mas jamais um ser humano (ou desumano, como querem as bonecas). O encontro com este é algo a ser evitado, a reprodução deste é algo a ser morto num balde, uma das peças deste cenário sem luxo (acompanham duas cadeiras sem assento, uma velha geladeira e um painel de isopor).

Só não fica claro a relação disto tudo com a história de grandes edifícios, como o das torres gêmeas de Nova Iorque, anunciados por Amanda, que faz da geladeira um palanque e eu faço aqui um infame trocadilho: o palanque da geladeira dá uma gelada na história.

Abre a peça um filme quase preto-e-branco do concreto da metrópole (São Paulo). Só as bonecas têm cores. No palco, a distância entre o texto (amargo) e o figurino (colorido) caminha, apesar dos pesares, para um belo encontro.

Há Um Crocodilo Dentro de Mim, montagem do grupo Conteúdo, de São Paulo, foi apresentada entre os dias 17 e 20 no Teatro Universitário de Curitiba (galeria Júlio Moreira).

Nenhum comentário:

Postar um comentário