segunda-feira, 22 de março de 2010

Uma Curitiba surreal e trágicômica com verve radiofônica

Há várias Curitiba, disse alguém (ou alguéns). Na Verdade Não Era, texto de Luiz Felipe Leprevost, prefere a das putas do Gato Preto, a dos hotéis de atendentes com varizes, a do edifício Tijucas, ícone da XV, descrita como a "rua dos pinguins sofridos", e funciona se fosse um encontro de Dalton Trevisan com Quentin Tarantino.

No teatro, esta tragicomédia de surrealismos é narrada sem artifícios que desviem o espectador do texto. Ponto para a diretora Nina Rosa. Bastam as atrizes, cada uma com um banquinho, um vestido que encobre os cabelos e uma cor: vermelho, azul e branco. No todo, um conjunto que bem contrasta com o fundo preto.

Se o figurino e cenários servem ao gosto da cliente sofisticada, o conteúdo pode incomodá-la. Na primeira história, uma jovem larga um feto no ônibus. Na segunda, aquela noite no Gato Preto incomoda o detetive.

O que há de engraçado? Tragédias e urgências são descritas como se a verborragia típica do rádio policial, que acentua a desgraça repetindo-a, frequentasse uma descompromissada conversa de manicures. Seja na repetição, seja no relato corrente, se sobressai a atriz Ciliane Vendruscolo (a de azul).

Só o que trava Na Verdade Não Era é a forma como se costuram as histórias no final. Opta-se por um solo da atriz e cantora Uyara Torrente que, ao anunciar que é o "epílogo", repete informações já sem o charme radiofônico. Mais breve, este fecho-desabafo casaria melhor com o rock assinado por Leprevost.

Na Verdade Não Era, montagem do Teatro de Ruído, de Curitiba, tem sua última sessão hoje (22, às 18h), no Teatro da Caixa (Conselheiro Laurindo, 280). Ingressos a R$ 20 e R$ 10.

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