terça-feira, 23 de março de 2010

Apesar da dispersão... ninguém escapou da boa Vida

Eles falam das estrelas, de sonhos, da maravilha que é alguém de um extremo do planeta ser ouvido em outro extremo e daquela senhora que seca lenços de papel para (ugh!) reutilizá-los. Eles cantam em inglês, em polonês e também parabéns. Numa alegre desconexão, Rodrigo Ferrarini, Giovana Soar, Ranieri Gonzales e Nadja Naira falam sobre e praticam algo que chamamos de vida. Agora, entendo porque Vida é o nome desta peça, a nova da curitibana Companhia Brasileira de Teatro.

O programa informa que o texto assinado por Márcio Abreu, também diretor, é inspirado na obra de Paulo Leminski e em algumas das preferências do poeta (Solda, Maiakovski, Bashô, Mishima, Cortazar, Joyce). Esqueça o programa e divirta-se sendo fiel ao lema de Leminski, fixado no palco: “Distraídos Venceremos.”

Dois terços de Vida ocorrem numa sala sem janelas e decorada apenas com um mapa-mundi. Nela, Ferrarini parece um daqueles divertidos professores de cursinho, Giovana é a tradutora que traduz até o desnecessário e Ranieri, o cantor e a cantora.

Vida é de uma leveza sem fim, o que até causa um incômodo: o da peça que não sabe acabar. Na meia hora final, Ranieri exibe os porques de suas tatuagens, Geovanna ganha bolo de aniversário, a luz acende e apaga e vem outro problema: só depois de tamanha dispersão, patrocinada pelo fato de que os atores usam seus próprios nomes, como quem diz "não sou um personagem”, é que Nadja Naira, outrora quase calada (“voce não vai falar nada?”, provoca Giovana), tem sua fala mais longa. Ela diz algo, mas depois de tanto dispersão... o que ela falou mesmo? Mas agora que a peça vai acabar? Por que não falou antes?

“Alguém escapou?”, é a pergunta repetida no texto. Ninguém! Apesar da dispersão final, saí com sensação de boa vida. E não escapo de afirmar quem entre Ferrarini e Ranieri o melhor não é um deles. São os dois!

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Vida, da Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba, foi apresentada entre os dias 19 e 21 de abril no Teatro José Maria Santos.

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