quarta-feira, 24 de março de 2010

Além d'As Meninas, uma mãe errante e... Clarisse Abujamra brilhante!

Como em qualquer transporte de um livro para o teatro, há uma traição em As Meninas. Permanecem as três moças, o cerne do clássico de Lygia Fagundes Telles. Porém, nesta adaptação escrita por Maria Adelaide Amaral e dirigida por Yara de Novaes, há mais luzes sobre uma quarta personagem: a errante mãe, que a atriz Clarisse Abujamra vive com baita acerto. Bem vinda traição!

Tensões e incertezas são bem levadas por Luciana Brites, Silvia Lourenço e Clarissa Rockenbach, respectivamente a modelo viciada em drogas, a ativista política e a boa aluna, que vivem num pensionato durante o período mais brabo do regime militar, a virada dos anos 60 para os 70. Somam-se as já citadas, Tuna Dewk veste a freira, que teme ver um Brasil comunista, e Júlio Machado sustenta três personagens: é namorado de uma, amante de outra e o apaixonado pela virgem.

Como fiel retrato desta conturbação, o cenário é escuro, com cadeiras pretas nas laterais, que servem às personagens extremadas. O raio de claridade são as cadeiras brancas, coerentemente no centro do palco, onde a certinha atua como ponto de equilíbrio.

Mas eu destacava Clarisse Abujamra, o brilhante de As Meninas. Ela é viúva que banca os caprichos de um garotão, incluindo uma agência de propaganda. Os lamentos da madame vêm como um solo cômico-dramático que escancara o ridículo da personagem sem impedir que o público a olhe com compreensão. Olhar, aliás, que o romance de Lygia pede o tempo todo. E que, no palco, é bem respeitado.

As Meninas tem sua última sessão nesta quarta (24) no SESC da Esquina (Visconde do Rio Branco, 969). Ingressos a R$ 45 e R$ 22,50.

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